Biografia de Ricardo Reis
Ricardo Reis(1887) é um heterônimo do poeta Fernando Pessoa.
Ele teve a idéia de criar “Ricardo Reis” quando escreveu os "Poemas de índole Pagã”. Seu perfil consta que nasceu em Porto e estudou em colégio de jesuítas. Foi viver no Brasil depois de se formar em medicina. Era autodidata na língua grega e de formação sólida na língua latina.
Ricardo Reis nasceu na cidade de Porto. Por nutrir simpatia em relação à causa monarquista, expatriou-se ao Brasil em 1919.
Ricardo Reis possui obras em seu nome. As primeiras obras foram publicadas na revista Athena, fundada por Fernando Pessoa em 1924. Posteriormente, publicou várias Odes na revista Presença, de Coimbra. A idéia desenvolvida em sua obra faz parte do pensamento Greco-romano: clareza, equilíbrio, as boas formas de viver, o prazer, a serenidade. O pensamento do filósofo Epicuro permeia a obra de Ricardo Reis, que pregava que as pessoas deveriam viver o “aqui e agora”, retomando o preceito grego do carpem diem, baseado no prazer. Mas, além do epicurismo, Reis possuía o estoicismo também como influência, que propõe a aceitação do acontecimento das coisas e a rejeição às emoções e sentimentos exacerbados.
Alguns poemas de Ricardo Reis
OUVI CONTAR QUE OUTRORA
- Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
- Ricardo Reis, 1-6-1916
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na Cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.
À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.
Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.
Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao refletir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.
Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.
Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Pra a efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predileto
Dos grandes indif'rentes.
Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranqüilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.
Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.
Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranqüila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.
O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.
A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.
Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença.
Da Verdade não Quero Mais que a VidaSob a leve tutela
De deuses descuidosos,
Quero gastar as concedidas horas
Desta fadada vida.
Nada podendo contra
O ser que me fizeram,
Desejo ao menos que me haja o Fado
Dado a paz por destino.
Da verdade não quero
Mais que a vida; que os deuses
Dão vida e não verdade, nem talvez
Saibam qual a verdade.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando PessoaNão Sejamos Inteiros numa Fé talvez sem CausaMeu gesto que destrói
A mole das formigas,
Tomá-lo-ão elas por de um ser divino;
Mas eu não sou divino para mim.
Assim talvez os deuses
Para si o não sejam,
E só de serem do que nós maiores
Tirem o serem deuses para nós.
Seja qual for o certo,
Mesmo para com esses
Que cremos serem deuses, não sejamos
Inteiros numa fé talvez sem causa.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando PessoaQuero dos Deuses só que me não LembremQuero dos deuses só que me não lembrem.
Serei livre — sem dita nem desdita,
Como o vento que é a vida
Do ar que não é nada.
O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos,
Cada um com seu modo, nos oprimem.
A quem deuses concedem
Nada, tem liberdade. Quer Pouco: Terás TudoQuer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
Por nós, quer-nos, oprime-nos.
Aguardo, Equânime, o que não ConheçoAguardo, equânime, o que não conheço —
Meu futuro e o de tudo.
No fim tudo será silêncio, salvo
Onde o mar banhar nada.
Domina ou CalaDomina ou cala. Não te percas, dando
Aquilo que não tens.
Que vale o César que serias? Goza
Bastar-te o pouco que és.
Melhor te acolhe a vil choupana dada
Que o palácio devido.
Adorei o Poema "Não Sejamos Inteiros numa Fé talvez sem Causa" Perfeito. Ricardo Reis foi um cara Magnifico... Mayara..25..3º D
ResponderExcluirPelo o que eu entendi do poema - Quero dos Deuses só que me não Lembrem, ele não tinha uma religião e não queria, não queria se 'apegar' a deuses, pois segundo ele, não tem liberdade quem recorre aos deuses.
ResponderExcluirFABIANA - 4 3°D
Fernando Pessoa criou Ricardo Reis como um amigo imaginário que viesse a ser assim como ele - artista. Talvez ele não estivesse satisfeito com si só. "rsrsrs"
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMais uma vez, Mayara e Fabiana!!! Muito bom!
ResponderExcluirConcordo com vcs! :)
Sônia
Rapazes,
ResponderExcluiro blog ficou legal. Mas, acredito que ele teria ficado melhor ainda se fossem vcs os leitores das poesias (nos vídeos). No próximo trabalho já sabem, né?! Aproveitem as vozes e gravem um vídeo vcs próprios! :)
Profa. Sônia