sexta-feira, 18 de maio de 2012

Ricardo Reis

Biografia de Ricardo Reis



Ricardo Reis(1887) é um heterônimo do poeta Fernando Pessoa.

Ele  teve a idéia de criar “Ricardo Reis” quando escreveu os "Poemas de índole Pagã”. Seu perfil consta que nasceu em Porto e estudou em colégio de jesuítas. Foi viver no Brasil depois de se formar em medicina. Era autodidata na língua grega e de formação sólida na língua latina.
Ricardo Reis nasceu na cidade de Porto. Por nutrir simpatia em relação à causa monarquista, expatriou-se ao Brasil em 1919.

Ricardo Reis possui obras em seu nome. As primeiras obras foram publicadas na revista Athena, fundada por Fernando Pessoa em 1924. Posteriormente, publicou várias Odes na revista Presença, de Coimbra. A idéia desenvolvida em sua obra faz parte do pensamento Greco-romano: clareza, equilíbrio, as boas formas de viver, o prazer, a serenidade. O pensamento do filósofo Epicuro permeia a obra de Ricardo Reis, que pregava que as pessoas deveriam viver o “aqui e agora”, retomando o preceito grego do carpem diem, baseado no prazer. Mas, além do epicurismo, Reis possuía o estoicismo também como influência, que propõe a aceitação do acontecimento das coisas e a rejeição às emoções e sentimentos exacerbados.


Alguns poemas de Ricardo Reis









OUVI CONTAR QUE OUTRORA


    Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
    Tinha não sei qual guerra,
    Quando a invasão ardia na Cidade
    E as mulheres gritavam,
    Dois jogadores de xadrez jogavam
    O seu jogo contínuo.
    À sombra de ampla árvore fitavam
    O tabuleiro antigo,
    E, ao lado de cada um, esperando os seus
    Momentos mais folgados,
    Quando havia movido a pedra, e agora
    Esperava o adversário.
    Um púcaro com vinho refrescava
    Sobriamente a sua sede.
    Ardiam casas, saqueadas eram
    As arcas e as paredes,
    Violadas, as mulheres eram postas
    Contra os muros caídos,
    Traspassadas de lanças, as crianças
    Eram sangue nas ruas...
    Mas onde estavam, perto da cidade,
    E longe do seu ruído,
    Os jogadores de xadrez jogavam
    O jogo de xadrez.
    Inda que nas mensagens do ermo vento
    Lhes viessem os gritos,
    E, ao refletir, soubessem desde a alma
    Que por certo as mulheres
    E as tenras filhas violadas eram
    Nessa distância próxima,
    Inda que, no momento que o pensavam,
    Uma sombra ligeira
    Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
    Breve seus olhos calmos
    Volviam sua atenta confiança
    Ao tabuleiro velho.
    Quando o rei de marfim está em perigo,
    Que importa a carne e o osso
    Das irmãs e das mães e das crianças?
    Quando a torre não cobre
    A retirada da rainha branca,
    O saque pouco importa.
    E quando a mão confiada leva o xeque
    Ao rei do adversário,
    Pouco pesa na alma que lá longe
    Estejam morrendo filhos.
    Mesmo que, de repente, sobre o muro
    Surja a sanhuda face
    Dum guerreiro invasor, e breve deva
    Em sangue ali cair
    O jogador solene de xadrez,
    O momento antes desse
    (É ainda dado ao cálculo dum lance
    Pra a efeito horas depois)
    É ainda entregue ao jogo predileto
    Dos grandes indif'rentes.
    Caiam cidades, sofram povos, cesse
    A liberdade e a vida.
    Os haveres tranqüilos e avitos
    Ardem e que se arranquem,
    Mas quando a guerra os jogos interrompa,
    Esteja o rei sem xeque,
    E o de marfim peão mais avançado
    Pronto a comprar a torre.
    Meus irmãos em amarmos Epicuro
    E o entendermos mais
    De acordo com nós-próprios que com ele,
    Aprendamos na história
    Dos calmos jogadores de xadrez
    Como passar a vida.
    Tudo o que é sério pouco nos importe,
    O grave pouco pese,
    O natural impulso dos instintos
    Que ceda ao inútil gozo
    (Sob a sombra tranqüila do arvoredo)
    De jogar um bom jogo.
    O que levamos desta vida inútil
    Tanto vale se é
    A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
    Como se fosse apenas
    A memória de um jogo bem jogado
    E uma partida ganha
    A um jogador melhor.
    A glória pesa como um fardo rico,
    A fama como a febre,
    O amor cansa, porque é a sério e busca,
    A ciência nunca encontra,
    E a vida passa e dói porque o conhece...
    O jogo do xadrez
    Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
    Pesa, pois não é nada.
    Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam,
    Com um púcaro de vinho
    Ao lado, e atentos só à inútil faina
    Do jogo do xadrez
    Mesmo que o jogo seja apenas sonho
    E não haja parceiro,
    Imitemos os persas desta história,
    E, enquanto lá fora,
    Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
    Chamam por nós, deixemos
    Que em vão nos chamem, cada um de nós
    Sob as sombras amigas
    Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
    A sua indiferença.

                                                 Ricardo Reis, 1-6-1916


Da Verdade não Quero Mais que a VidaSob a leve tutela 
De deuses descuidosos, 
Quero gastar as concedidas horas 
Desta fadada vida. 
Nada podendo contra 
O ser que me fizeram, 
Desejo ao menos que me haja o Fado 
Dado a paz por destino. 
Da verdade não quero 
Mais que a vida; que os deuses 
Dão vida e não verdade, nem talvez 
Saibam qual a verdade. 

Ricardo Reis, in "Odes" 
Heterónimo de Fernando Pessoa
Não Sejamos Inteiros numa Fé talvez sem CausaMeu gesto que destrói 
A mole das formigas, 
Tomá-lo-ão elas por de um ser divino; 
Mas eu não sou divino para mim. 

Assim talvez os deuses 
Para si o não sejam, 
E só de serem do que nós maiores 
Tirem o serem deuses para nós. 

Seja qual for o certo, 
Mesmo para com esses 
Que cremos serem deuses, não sejamos 
Inteiros numa fé talvez sem causa. 

Ricardo Reis, in "Odes" 
Heterónimo de Fernando Pessoa
Quero dos Deuses só que me não LembremQuero dos deuses só que me não lembrem. 
Serei livre — sem dita nem desdita, 
Como o vento que é a vida 
Do ar que não é nada. 
O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos, 
Cada um com seu modo, nos oprimem. 
          A quem deuses concedem 
          Nada, tem liberdade. 
     Quer Pouco: Terás Tudo
Quer pouco: terás tudo. 
Quer nada: serás livre. 
O mesmo amor que tenham 
Por nós, quer-nos, oprime-nos.

Aguardo, Equânime, o que não ConheçoAguardo, equânime, o que não conheço — 
Meu futuro e o de tudo. 
No fim tudo será silêncio, salvo 
Onde o mar banhar nada. 

Domina ou CalaDomina ou cala. Não te percas, dando 
Aquilo que não tens. 
Que vale o César que serias? Goza 
Bastar-te o pouco que és. 
Melhor te acolhe a vil choupana dada 
Que o palácio devido. 


6 comentários:

  1. Adorei o Poema "Não Sejamos Inteiros numa Fé talvez sem Causa" Perfeito. Ricardo Reis foi um cara Magnifico... Mayara..25..3º D

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  2. Pelo o que eu entendi do poema - Quero dos Deuses só que me não Lembrem, ele não tinha uma religião e não queria, não queria se 'apegar' a deuses, pois segundo ele, não tem liberdade quem recorre aos deuses.

    FABIANA - 4 3°D

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  3. Fernando Pessoa criou Ricardo Reis como um amigo imaginário que viesse a ser assim como ele - artista. Talvez ele não estivesse satisfeito com si só. "rsrsrs"

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Mais uma vez, Mayara e Fabiana!!! Muito bom!

    Concordo com vcs! :)

    Sônia

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  6. Rapazes,

    o blog ficou legal. Mas, acredito que ele teria ficado melhor ainda se fossem vcs os leitores das poesias (nos vídeos). No próximo trabalho já sabem, né?! Aproveitem as vozes e gravem um vídeo vcs próprios! :)
    Profa. Sônia

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